Na minha miraculosa semana de férias perto do mar dividi uma casa com outras quatro pessoas, num morro cercado de alpínias e bananeiras. Dos cinco tripulantes, três eram cozinheiros profissionais, os outros dois além de mim, quase uns monstros sagrados, perto de quem eu ficava envergonhada de quebrar um ovo até.
Cozinhamos todas as noites, sem nenhuma cerimônia, dividindo a bancada e as tábuas, enchendo as taças de bolhas e de música, e quando nos sentávamos para comer a comida era simples e boa, a companhia melhor ainda, enquanto a noite cintilava ao nosso redor e o mar estava onde sempre esteve. Mas não queria falar dos nossos acertos e sim dos nossos erros, porque apesar do calibre dos manejadores de facas, sem excessão, em algum momento das sete refeições que preparamos, cada um de nós errou a mão de alguma maneira.
Gosto de pensar nesse fracasso como um ótimo exemplo de que não existem garantias absolutas numa cozinha, de como, independente da experiência do cozinheiro, cozinhar sempre é se arriscar e parte da beleza da tarefa encontra-se aí mesmo.
Conheço muita gente que não cozinha porque tem medo que as coisas não saiam perfeitas ou porque se angustiam com a imprecisão de certos conceitos relativos, como quanto tempo cozinhar um assado, por exemplo. Eu conheço essa angústia e foi somente quando eu pude deixá-la de lado que eu consegui realmente sentir prazer em cozinhar, pois para mim, para aprender a disfrutar de cozinhar há que abandonar-se sem muitas cautelas, saber arriscar, não ficar tão preocupado com as imperfeições, afinal de contas, é só comida o que estamos fazendo.